sexta-feira, outubro 26, 2007


Lolitame mucho

Os primeiros livros da minha vida foram os que me foram lidos na extrema infância, ainda eu não sabia ler, porque me fizeram perceber que eram coisa fascinante. Curiosamente, não eram livros infantis. Meus pais não gostavam de bebezices e não tinham pachorra para fadas e similares. Eram livros de conteúdo "tame" mas clássicos. Basicamente romances/novelas bucólicas, românticas e/ou moralistas, coisas que se podiam ler a uma criança sem lhe conspurcar a mente com impropriedades. Defino esta primeira fase - definir é básico – como uma janela para o mundo, para diferentes mundos.
Numa segunda fase, vem a descoberta da fantasia: o Noddy (esse mesmo, de Enid Blyton, os Five, os Seven), Walt Disney, Tintin, Julio Verne, Arthur C. Clarke, Philip K. Dick, Carl Sagan.

Numa terceira fase, urge a descoberta da interpretação, a busca incessante das referências. Quase tudo século dezanove: Viagens da minha Terra de Almeida Garrett; Alexandre Herculano; Eça, o enorme Eça. Andava pelos quinze. E pela puberdade.
Na pré-universidade, gritava a testerona e a tentativa da teorização do mundo: Herman Hesse – Siddhartha; Albert Camus - L'étranger.
No Campus, reconsiderei, reponderei. Bolas, faltava-me o verdadeiro Conhecimento. Andava aos ziguezagues, por teorias circulares… peguei em A. J. P. Taylor - The Struggle for Mastery in Europe 1848–1918 e aterrei na realidade. Na percepção duma Europa muito mais complexa, em que os equilíbrios se alcançavam por tácitas alianças…

Algo mais tarde, apreciei a percepção da simplicidade. Afinal, eram os tais clássicos: Thomas Mann; Shakespeare; James Joyce; Marcel Proust; Charles Dickens, "David Copperfield or The Personal History, Adventures, Experience and Observation of David Copperfield the Younger of Blunderstone Rookery (which he never meant to be published on any account)"- sei de cor, juro; Tolstoi, Anna Karenina.
Hoje, contento-me com a emoção da surpresa, da descoberta inesperada, da comoção: Nick Hornby, Fever Pitch. E mais. Alguns…

PS: Foi uma proposta indecente, Lolita. Íntima, íntima... mas diverti-me bastante...